Os engates Sergent foram inicialmente descobertos em pesquisas e testados no Brasil pelos modelistas Nicholas Burman, Rômulo de Sousa, Tiago Augusto Alves, Joaquim Mitchell (in memoriam) e Ewerthon Mota de Abreu, Rômulo de Sousa, Fabricio Sachette Lino e João Rodrigues (eu), como uma alternativa para o uso dos engates Kadee, que apesar de sua crescente popularidade entre os ferreomodelistas brasileiros, não apresenta fidelidade completa ao protótipo, bem como encontra-se obsoleto para fóruns de ferreomodelismo estrangeiros como Proto87, Protomodeler, Diesel Detailer e RMWeb. Desenvolvido pelo modelista norteamericano Frank Sergent, o engate Sergent utiliza-se de uma microesfera de aço similar à de uma caneta esferográfica para o travamento da mandíbula e possui fidelidade estética total aos engates utilizados nas ferrovias reais. Em contraste com os engates Kadee, nos quais pode-se notar a presença de uma mola no lado externo para o fechamento da mandíbula, nos engates Sergent a garra é mantida travada pela própria gravidade, que mantém a esfera na posição inferior; para a abertura da mandíbula, faz-se necessário o posicionamento de um magneto/ímã acima do engate, de forma a fazer a esfera subir e liberar a mandíbula. Em contraste com modelos mais antigos como o engate NEM (oscilante padrão da Frateschi), X2F e Kadee, o Sergent destaca-se por ser um engate de excesso de força, que não abre em caso de descarrilamentos e não apresenta quaisquer tipos de falhas que possam levar à abertura da mandíbula; bem como permite uma fidelidade estética ao protótipo com o uso de mangueiras de freio apropriadas, tendo em vista que não possui a mangueira pendurada da mandíbula e esteticamente fora de escala típica dos engates Kadee.
Os trabalhos com os engates Sergent no fórum de ferreomodelismo e pesquisa ferroviária RPMBrasil tiveram início em quando o Ewerthon me sugeriu utilizá-lo como alternativa ao Kadee em março de 2017 e adquiri o primeiro par de engates para testes na Rio Grande Modelismo, loja bastante conhecida de ferreomodelismo na qual o pouco conhecido modelo de engate é comercializado no Brasil. É um ponto interessante a se notar o fato de que poucos modelistas se preocupam em dar o segundo salto (de Kadee para Sergent), tendo em vista o grande incremento que o Kadee proporciona em relação ao engate NEM. Minha primeira instalação foi feita em uma locomotiva S1 da (Kato?) e em um vagão box EFCB da Frateschi, e mostrou-se particularmente difícil em razão da diferença de dimensões entre a caixa do engate Sergent em relação à caixa do Kadee – problema que, como descobri em consulta ao website http://www.sergentengineering.com pode ser resolvido com o uso dos modelos Sergent Compatible, que possuem medidas compatíveis com a caixa do Kadee.
Posteriormente, em conversas no fórum com os ferreomodelistas Alex Ibrahim e Alexandre Fressatto, concluímos que o principal entrave para os modelistas que conheciam os engates Sergent era a baixa funcionalidade em comparação ao Kadee: o primeiro era difícil de engatar e desengatar – exigia o posicionamento de um pequeno magneto logo acima da mandíbula para que as esferas subissem e abrissem os engates, o que é ligeiramente complicado em razão de os vagões e locomotivas ficarem mais próximos entre si – ao passo que para o segundo bastava encostar os vagões para engatá-los e o desengate poderia ser feito através das mangueiras desproporcionalmente grandes penduradas das mandíbulas de engate. Para nós, não bastava; era necessário transformar o Sergent em um engate funcional. À medida que ampliava a participação dos engates Sergent no meu material rodante, logo percebi que as operações ficaram consideravelmente mais complexas, principalmente envolvendo composições de carga geral e mistas; fazia-se necessário o desenvolvimento da funcionalidade do engate Sergent. Após longas discussões sobre todas as possíveis formas de transformar o Sergent em um engate mais funcional, desde o posicionamento de um ímã para levantar a microesfera de aço até o desenvolvimento de um mecanismo de relógio para abrir a mandíbula manualmente, obtivemos como modelo mais viável o executado pelo modelista Fabricio Lino, que consistia na perfuração da mandíbula do Sergent e na inserção de um pino similar ao utilizado nas ferrovias reais.
Desenvolvido em 30 de junho de 2017, o novo modelo reproduz com total fidelidade o sistema de engate utilizado nos protótipos reais – a fidelidade completa ao protótipo foi finalmente alcançada. Por fim, estamos elaborando uma forma de produção em escala e ampliar a funcionalidade do modelo de forma que possa ser acionado por DCC; prova de que os trabalhos da turma do fórum RPMBrasil, tanto com os engates Sergent como com outros itens de Ferreomodelismo que contribuem para aumentar o realismo das maquetes ferroviárias estão longe de acabar.
Imagens:

Locomotiva G22U com o modelo funcional do Sergent instalado. Na foto, o pino encontra-se abaixado e a mandíbula travada. Foto de Fabricio Sachette Lino

Mandíbula do engate Sergent perfurada (abaixo) e o respectivo pino (acima). Foto de Fabricio Sachette Lino

Modelo HO da locomotiva RS1 nº3107 da Divisão Especial de Subúrbios da EFCB com engates Sergent, por João Rodrigues